Pular para o conteúdo principal

Palavras e Livros sagrados

Falei muito antes de andar... sem ter um ano completo já dizia muitas palavras, perguntava o porquê de tudo o que via e que me cercava.
Com cinco anos já sabia ler, com dificuldade é verdade, mas formava palavras, adorava o cheiro dos livros, o cheiro de cadernos novos, o cheiro de canetas. Meu mundo foi povoado de cheiros e palavras, escrita e livros.
Muitas vezes, quando as coisas não saiam bem a meu gosto refugiava-me em outros mundos, mergulhava em Monteiro Lobato, Marcos Rey, Machado de Assis, José de Alencar...
Tinha pouco mais de doze anos e mais de cem livros no currículo...
Parei de contar aos quinze, quando passei de duzentos e cinquenta...
Na adolescência dividia meu tempo entre as paixões arrebatadoras e eternas dos romances e as minhas próprias, algumas vezes tão dramáticas (na época pareciam...) como as que eu lia.
Escrevi poemas, centenas deles, alguns por escrever, outros com endereço certo; cartas para pessoas que nunca leram, sentimentos debruçados no papel em diários, cadernos, folhas soltas...
E meu mundo se enchia do que era verdade e do que era arte, do que eu vivia e do que eu criava.
Estranho pensar que em muitos momentos um livro escrito há anos, por pessoas que jamais me conheceram me entendiam melhor, muito melhor do que quem estava ao meu lado.
Vivi em dois mundos simultaneamente, algumas vezes em três deles e o que era melhor: ninguém sabia. Quando um não estava muito bom, lá ia eu pelos caminhos dos outros.
Há pouco tempo escutei uma frase, vinda não de mim, mas de uma menina que lembra a mim mesma no final da adolescência...
"Livros são sagrados"; me espantei porque esta era a minha frase.
Sorri em silêncio e pensei em quantas vezes eles salvaram minha vida; me salvaram da solidão, da tristeza e da falta de ânimo; me ensinaram sobre o mundo e as pessoas; fizeram-me rápida no pensamento e na escrita, abriram minha mente e meu coração; transformaram-me no que sou hoje: às vezes Aurélia de Alencar ou Isabel de Marcos Rey; curiosa como Emília de Lobato ou Corajosa como Inez de Allende.
Aprendi a contar histórias envolta por elas,crescida e criada no silêncio de bibliotecas, nas festas reais e imaginárias de minha juventude; nas amizades eternas e nos amores profundos e verdadeiros da vida adulta, lidos e vividos.
Como diria uma outra Contadora de Histórias, bem parecida com esta aqui, "Livros são sagrados".

Comentários

Me disse…
OI Paulinha....
Acho que tô ficando viciado nas tuas histórinhas... Tô lendo uma por dia.
Não para não, hein!!!

Beijão prá ti e pro maridão!!!

Postagens mais visitadas deste blog

A fada Sabrina

Era uma vez uma menina que acreditava em contos de fadas. Ela acreditava que todas as meninas eram princesas e que os príncipes eram homens valentes e destemidos, que salvavam as donzelas em perigo e assim os dois viveriam felizes para sempre. Em sua cabeça, ela era uma princesa, no entanto, foi batizada com nome de fada: Sabrina. O tempo passou e a menina cresceu. Vaidosa e delicada enfeitava-se com pedras brilhantes e cores da moda, os olhos castanhos sempre maquiados, os cabelos ruivos parecendo fogo brando emoldurando o rosto de aparência sempre jovem e com sardas, a princípio renegadas, mas que aumentavam sua beleza. Beijou alguns sapos na esperança de que eles se transformassem em lindos homens, mas, contrariando as histórias, na vida real sapos são sempre sapos. Um dia a princesa com nome de fada conheceu a contadora de histórias, jamais duas pessoas foram tão diferentes. A contadora de histórias já havia conhecido algumas princesas e ela não se parecia com uma. Lembrava mais um...

A Negociação

Eles estavam sentados em uma mesa no canto mais reservado do estabelecimento. O lugar era um bar simples  mas limpo, pouca iluminação, apenas o suficiente para enxergar o rosto de alguém que se sentasse perto. Claro que eles não estavam perto demais. Ela usava um vestido de linho branco um pouco acima do joelho; elegante e discreto para a ocasião. A cor neutra da roupa contrastava com o vermelho escuro dos cabelos.  Ele usava terno e gravata, mostrando que era um homem de negócios.  _Você é menos assustador do que eu imaginava. A Ruiva realmente esperava alguém mais sombrio do que aquele homem de cabelos negros e olhos acinzentados.  _ Você é mais bonita do que eu me lembrava. -  Ele sabia quem ela era, mas, realmente andava tão ocupado com os negócios que, às vezes, deixava passar alguns detalhes.  _ Mas, eu preferia seu cabelo na cor natural. Castanho não é? A raiz já está aparecendo - disse O Homem e em seguida se arrependeu. Apesar das circun...

Perguntas e Respostas

Era uma vez uma menina que não entendia muito bem o mundo à sua volta. Quando pequena, já pensava com cabeça de gente grande e não conseguia compreender muito bem porque as pessoas às vezes eram más, ou pareciam más; ela também não entendia porque palavras duras e grosseiras eram consideradas brincadeiras. Cresceu vendo coisas que crianças normais não viam, ou pelo menos não deveriam ver; ouvia coisas que ninguém deveria ouvir, mas, apesar de tudo, em sua mente haviam vozes mais fortes... Essas vozes lhe falavam de lugares que conheceria, amigos que encontraria e vidas que passariam a fazer parte da sua. A menina cresceu e continuou sem entender o mundo à sua volta, mas, como era curiosa, ficava cada vez mais atenta, sabia cada dia mais coisas e já não chorava quando ficava triste. Preenchia seu coração com palavras de outras pessoas e as vozes em sua cabeça lhe contavam de mundos mágicos, amores eternos e aventuras inimagináveis... Quando se apaixonou pela primeira vez, de verdade, nã...