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Ana Clara é Miguel


Não é menina, é menino...
Roupas compradas, um mar cor de rosa que inundava os dias dessa contadora de histórias em fração de segundos se desfaz...
Como é que se muda assim uma coisa certa desde que o mundo é mundo?
Primeiro não tinha nascido para ser mãe. Depois, quando ela se acostumei à ideia pensa em adotar, meia dúzia de crianças já prontinhas, esperando por uma família. Um belo dia a contadora de histórias conhece um homem com cara de menino que quer ser pai, e fala assim, logo no segundo encontro: "Não estou com você para brincar, vamos casar e ter filhos".
Ele pode ser um psicopata, pensa ela; pode ser louco; ou, pode estar apaixonado.
A terceira opção mostrou-se verdadeira.
Anos depois, ela começa a se acostumar com a ideia e já escolheu o nome da filha, já que, se tem que ser mãe, será de uma menina.
O mundo é machista, diz ela; apenas uma filha vai entender o que é ser mãe. Vai ser minha amiga e, claro, dar continuidade ao círculo da bruxaria iniciado há dezoito anos com as melhores amigas; uma delas já tem uma menina: Eloah, o nome soa como uma nota de música cantada no final da tarde; parece mel, ou algo doce.
Sua filha vai se chamar Ana Clara e terá os olhos e o nariz do pai.
A contadora canta para ela na barriga; conversa sobre o mundo, vai explicando que a vida não é fácil mas é uma grande aventura; diz que quando ela se apaixonar a primeira vez será o máximo e mesmo quando sofrer por alguém também será bom.
E, de repente, não é mais ela, é ele.
Ele não tem nome, já que a contadora nunca achou que fosse ter um menino. Ele não tem nome e já tem mais de cinco meses!
Ele só tem roupas cor de rosa, bordados lilases, presentes de menina.
Então, a contadora faz uma lista com nomes compostos bem ao estilo mexicano (que ela adora), nomes duplos e apenas alguns curtos. Entre eles, um que ronda sua cabeça há alguns dias: Miguel. Ela pede para o marido que diga em voz alta os nomes, quando ele chutar, será feita a escolha. A lista vai diminuindo e nenhum chute, até que o bebê escuta o nome Miguel. Então chuta; primeiro tímido, depois, forte.
Agora ele já tem um nome.
Mas a contadora ainda não se acostumou com a ideia e se sente um pouco perdida; então, este menino começa a fazer bagunça em sua barriga toda vez que ela pensa no assunto; procura sua mão quando ela a coloca sobre o ventre e não chuta para mais ninguém, só para a mãe e para o pai.
Ele não dá trabalho, não provoca enjôos, não chuta suas costelas (ainda). Lá se vão mais dois meses. Ajudada pela tecnologia 3D a contadora consegue ver o rosto dele; e parece que esse pequeno bebê,quer mesmo agradá-la porque é a mistura perfeita dos dois, pai e mãe, lindo e com uma bochecha enorme, como ela adora em crianças.
Agora ela até pensa que, talvez esteja grávida não de uma criança, mas de um anjo protetor, como o nome escolhido por ele.

Comentários

Ana Silva disse…
Vc, com o sempre, escreve muito bem!A maternidade é assim mesmo..vive de brincadeira..quando a gente pensa que está tudo certo e planejado, surge um imprevisto. Costumo dizer que só quem não tem filhos nãos abe mudar de rumo..Qdo se tem filhos, as coisas mudam em uma fração de segundos..num momemto tá tudo certo, aí surge uma grup..uma febre..uma fralda pra trocar..vai se acostumando..bjos!

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