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Mostrando postagens de 2008

Zorro - Começa a lenda

Ele nasceu no penúltimo dia do penúltimo mês do ano, último filho de uma mulher com nome de estrela: Sol. Não causou sofrimento para vir ao mundo, de fato, veio rápido e sem complicações. Seu signo era o do centauro, metade homem, metade cavalo. Cresceu assim mesmo, com o cérebro aguçado e a sinceridade galopante, que muitas vezes parece uma patada. Quando pequeno seus cabelos avermelhados e os olhos cor de esperança emolduravam a cara de zangado. Pelo corpo, sardas se espalhavam e pareciam marcar inúmeros caminhos, pernas, braços e nariz. Com os anos sua vasta cabeleira tornou-se negra como a noite, só os olhos continuavam como duas esmeraldas. Seu nome era o mesmo do Zorro, seu coração também. Ainda criança olhava o mundo com olhos cheios de curiosidade, buscando algo mais, buscando algo além. Aprendeu cedo, com esforço próprio a construir e reconstruir. Primeiro objetos, máquinas, depois pessoas, corações. Como o cavaleiro mascarado escondia sua própria identidade atrás do olhar tac

Sempre Gabriela

Gabriela morreu aos sete anos. Morreu cercada por sua família, cercada de amor e afeto, carinho e preocupação. Apesar de sua respiração ofegante, de seus espasmos que significavam dor e dificuldade em controlar o corpo, de alguma forma ela sabia que era amada, que sua falta seria sentida imensamente e que a vida de todos naquela casa amarela nunca mais seria a mesma. Gabriela morreu em uma tarde sábado, cercada por seu pai, sua mãe, seus dois irmãos emprestados e seu amigo Homero. Morreu nos braços de seus dois irmãos e da menina que contava histórias, amiga da família de Gabriela desde sempre. Quando respirou pela última vez, a sala em que estava deitada em um colchão se encheu de lágrimas, soluços e saudade. Quando Gabriela se foi, a menina de olhos cor de céu decidiu que ela ficaria alí, na casa amarela. Ela foi enterrada no pomar, embaixo da roseira da família, com uma flor e seu brinquedo favorito. A menina que contava histórias estava lá e ajudou a remover um pouco da terra ao re

As três Marias

Uma era feita de neve, a pele branca, quase translúcida. Os olhos claros, azuis como o céu sem nuvens, escondidos atrás da armação do óculos de aros transparentes, os cabelos lisos e castanhos caíam pelos ombros sem dificuldade. Era magra e um pouco mais alta do que a maioria das de sua idade. Era quieta. Tão quieta que sua respiração, quando ouvida, chamava a atenção por ser um dos únicos sons que ela costumeiramente emitia. Sua voz era baixa e tímida, voz que a boca rosada e os lábios finos emolduravam. Quando estava sozinha pensava em coisas doces. Fazia doces. Mas quando se irritava (isso seria descoberto mais tarde), sua calma se transformava em um frenesi de palavras desconexas, difíceis de entender. Quase insanas. A pele alva ficava vermelha e os olhos claros se mexiam com rapidez, parecendo que sairiam das órbitas. Tinha cheiro de casa, simplicidade e aconchego.Era a primeira. A outra era feita da tarde, aquela hora em que o céu começa a escurecer, a cor do jambo quando está ma

A contadora de histórias

Durante muito tempo andei por aí, vendo, ouvindo e falando. Sempre. Muito. Desde sempre soube qual seria o meu destino. Não me preocupei se me traria fama, glamour ou reconhecimento. Meu destino sempre esteve ali e isso me bastava. Ele sempre me aguardou para quando eu estivesse pronta, com todas as perguntas na ponta da língua, com mais e mais perguntas por todo o meu ser. Ele sempre esteve ali. Claro, límpido, sem demora ou tropeços. Nunca é fácil seguir o destino. Muitas vezes ele escorrega por nossos dedos e nos faz duvidar, questionar, fraquejar... Ele só quer saber se o queremos, de toda forma. Porque pode ser que o reneguemos e aí, ele vai continuar esperando, talvez para sempre... Meu destino não é tão difícil assim. Consiste em algumas coisas simples: Parar. Escutar. Escrever. Sou uma contadora de histórias.