Tenho 31 anos e quando assisti ao filme Dirty Dancing pela primeira vez deveria ter uns 13 ou 14. Na cena final, a clássica cena de dança, voltei a fita (é, naquela época era fita) umas 15 vezes em apenas uma noite. A partir daquele momento o estrago estava feito e pode ser resumido em alguns tópicos:
1º Eu estava irremediavelmente apaixonada pelo Patrick Swayze (tanto que no dia em que ele morreu usei preto e recebi inúmeros e-mails de amigos que sabiam de meu amor platônico);
2º Todas as vezes em que eu via algum canal reprisando o filme, parava como que hipnotizada na frente da TV e só saía após a cena final (a da dança, claro);
3º Não contabilizei ao certo mas, nesses quase vinte anos que se passaram desde a primeira vez que assisti à película, já vi a última cena mais de 300 vezes;
4º Ele foi, é e, possivelmente, continuará sendo o meu filme favorito, de todos os tempos.
5º Tenho todas as edições comemorativas, com cenas extras, deletadas, testes dos atores e tudo o mais que tenho direito.
O mais engraçado é que, normalmente não sou louca por filmes românticos, sim, porque este é um desses filmes. Tentando decifrar o mistério fiz o sacrifício de assistir a Dirty Dancing algumas vezes mais com olhos de "crítica de cinema", ou, pelo menos, de uma jornalista racional (mesmo vendo Patrick dançar) e o que descobri é que Dirty Dancing não é apenas um filme de amor.
É um filme que retrata as mudanças sociais da década de 80, principalmente no que se refere às mulheres.
A personagem principal, Baby, começa o filme como uma garota ingênua, com certa personalidade, mas, ainda tratada pela família como um bebê (atenção para o apelido da menina); já o protagonista, Johnny Castle é um rapaz mais vivido e também mais velho, calejado e descrente da bondade alheia, vive de dar aulas de dança, tem casos com mulheres mais velhas, mas, mesmo assim preserva valores como amizade e lealdade.
É um homem com "H" maiúsculo, como diria minha avó. Além disso, sabe tratar uma dama como uma verdadeira dama.
Ao longo do filme a menina desengonçada vivida pela atriz Jennifer Grey começa a descobrir a própria feminilidade e claro, se apaixona por Johnny enquanto os dois se preparam para participarem de uma apresentação de dança.
O filme é ótimo: tem uma trilha sonora fenomenal, bons atores, uma história água com açúcar não enjoativa e cenas de dança de tirar o fôlego, mas, quem rouba toda a atenção é Swayze.
Nele está o encanto do filme. Parece clichê ou delírio de fã apaixonada (mesmo que a paixão seja póstuma) mas, Johnny Castle é o que toda mulher sempre quis: protetor sem ser machista, vulnerável na medida certa, corajoso e bom de briga, com jeito de Bad Boy e coração de homem que ama uma única mulher, sabe, daqueles que são incompreendidos? No final, ele faz o "debut" de Baby; primeiro quer saber qual é seu primeiro nome (Francis), porque, segundo ele, "isso sim é nome de adulta"; depois, passam a primeira noite dela juntos e, finalmente, para uma platéia atônita que inclui o pai superprotetor da garota, a tira para dançar, assumindo publicamente o relacionamento deles.
Em uma época em que a mulher ainda estava presa a padrões machistas (não que agora estejamos livres deles), Dirty Dancing rompeu algumas barreiras falando sobre aborto, sexo entre pessoas de idades diferentes e desmistificou os profissionais da dança, tratados quase sempre como "pessoas de vida fácil", além de mostrar a frivolidade dos ricos e aristocratas, pessoas que se "divertem" com os menos favorecidos financeiramente mas querem manter as aparências a todo custo.
De lá pra cá, algumas coisas mudaram, mas, muitas continuam iguais, principalmente a parte da frivolidade e do preconceito.
O encanto de Dirty Dancing está justamente nisso: em colocar o dedo na ferida da hipocrisia, em romper padrões e, claro, em mostrar como a arte pode unir dois mundos bem diferentes.
Ah, tá bom vai, a quem eu quero enganar?
O encanto maior é Patrick.
E pra quem quer ver a dança final: http://www.youtube.com/watch?v=qVNTPJKuVQg
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