Pular para o conteúdo principal

Apenas alguém normal

Eles se conheceram em uma noite normal, de um mês normal, chamado por alguns de "mês do desgosto"...
Quando ela o viu não enxergou nada além de um rapaz normal, como tantos que já haviam cruzado sua vida...
Não reparou nos olhos verdes e curiosos por detrás dos óculos, nem no formato quadrangular do queixo que demonstrava um orgulho despretensioso, de quem encara a vida com seriedade e trabalho.
Não reparou também que os cabelos mal cortados por obra de algum barbeiro inábel escondiam a testa lisa de um homem jovem, mas que já marcava algumas linhas de expressão, próprias de quem pensa muito e realiza muito...
Ela não viu nada além do que seus olhos que nada procuravam podiam ver...
Na verdade, seus olhos já não queriam se encantar com nada mais que não fosse motivo para um bom texto ou uma boa recordação.
Mas o acaso resolveu juntá-los em uma noite qualquer, de um ano qualquer...
Ele, por sua vez, se apaixonou mesmo sem vê-la pela primeira vez, apenas pelo timbre alto de sua voz que ensinava a uma amiga como não se deixar prender por paixões casuais.
Quando a viu, talvez por um momento, um segundo, tenha adivinhado o destino de ambos, vislumbrado a vida que construiriam juntos, os momentos tristes e felizes, as vitórias e conquistas, como seriam lindos os filhos que, em um futuro distante, viriam a ter, porque, apenas um momento de premonição poderia explicar a paixão repentina e a insistência em repetir o encontro casual.
Durante dois meses eles se encontravam "sem querer", nos locais em que ela estaria sempre, em noites de festa em que amigos comuns os convidavam para o mesmo lugar.
E assim foi...
Anos depois, quando ela o olha dormir, na casa em que construíram, com fotos que contam uma história de quase uma década, com os olhos verdes fechados, os cabelos escuros (finalmente bem cortados) e a barba serrada no queixo que ela adora, se pergunta em silêncio como pôde ter sido tão cega naquela primeira noite em que o achou apenas normal...
Não consegue entender como seu coração não o reconheceu logo no primeiro encontro, como demorou para saber que o amaria pelo resto de sua vida.
E enquanto ele dorme, agradece a Deus em silêncio por tê-lo abençoado com a teimosia de quem sabe o que quer e por ele ter sido seus olhos quando ela não podia ver.

Comentários

Unknown disse…
Ai, que lindo isso...! Me molhei...! rs...
Beijocas
Priz

Postagens mais visitadas deste blog

A fada Sabrina

Era uma vez uma menina que acreditava em contos de fadas. Ela acreditava que todas as meninas eram princesas e que os príncipes eram homens valentes e destemidos, que salvavam as donzelas em perigo e assim os dois viveriam felizes para sempre. Em sua cabeça, ela era uma princesa, no entanto, foi batizada com nome de fada: Sabrina. O tempo passou e a menina cresceu. Vaidosa e delicada enfeitava-se com pedras brilhantes e cores da moda, os olhos castanhos sempre maquiados, os cabelos ruivos parecendo fogo brando emoldurando o rosto de aparência sempre jovem e com sardas, a princípio renegadas, mas que aumentavam sua beleza. Beijou alguns sapos na esperança de que eles se transformassem em lindos homens, mas, contrariando as histórias, na vida real sapos são sempre sapos. Um dia a princesa com nome de fada conheceu a contadora de histórias, jamais duas pessoas foram tão diferentes. A contadora de histórias já havia conhecido algumas princesas e ela não se parecia com uma. Lembrava mais um

A Negociação

Eles estavam sentados em uma mesa no canto mais reservado do estabelecimento. O lugar era um bar simples  mas limpo, pouca iluminação, apenas o suficiente para enxergar o rosto de alguém que se sentasse perto. Claro que eles não estavam perto demais. Ela usava um vestido de linho branco um pouco acima do joelho; elegante e discreto para a ocasião. A cor neutra da roupa contrastava com o vermelho escuro dos cabelos.  Ele usava terno e gravata, mostrando que era um homem de negócios.  _Você é menos assustador do que eu imaginava. A Ruiva realmente esperava alguém mais sombrio do que aquele homem de cabelos negros e olhos acinzentados.  _ Você é mais bonita do que eu me lembrava. -  Ele sabia quem ela era, mas, realmente andava tão ocupado com os negócios que, às vezes, deixava passar alguns detalhes.  _ Mas, eu preferia seu cabelo na cor natural. Castanho não é? A raiz já está aparecendo - disse O Homem e em seguida se arrependeu. Apesar das circunstâncias não era educado de s

O encanto de Dirty Dancing

Tenho 31 anos e quando assisti ao filme Dirty Dancing pela primeira vez deveria ter uns 13 ou 14. Na cena final, a clássica cena de dança, voltei a fita (é, naquela época era fita) umas 15 vezes em apenas uma noite. A partir daquele momento o estrago estava feito e pode ser resumido em alguns tópicos: 1º Eu estava irremediavelmente apaixonada pelo Patrick Swayze (tanto que no dia em que ele morreu usei preto e recebi inúmeros e-mails de amigos que sabiam de meu amor platônico); 2º Todas as vezes em que eu via algum canal reprisando o filme, parava como que hipnotizada na frente da TV e só saía após a cena final (a da dança, claro); 3º Não contabilizei ao certo mas, nesses quase vinte anos que se passaram desde a primeira vez que assisti à película, já vi a última cena mais de 300 vezes; 4º Ele foi, é e, possivelmente, continuará sendo o meu filme favorito, de todos os tempos. 5º Tenho todas as edições comemorativas, com cenas extras, deletadas, testes dos atores e tudo o mais que tenho